Letícia Luthor

Escritora maldita, matemática profana, amante das palavras e acusada de bruxaria. Este arquivo reúne os fragmentos da mente mais incompreendida do século XIX.

Milão, 06 de abril de 1830 — 17 de julho de 1897
Retrato de Letícia Luthor segurando uma pena

Retrato imaginado de Letícia Luthor, realizado com base em descrições de seus contemporâneos.

Infância em Milão

Nascida e criada em Milão, Itália, Letícia cresceu rodeada por arte, silêncio e estranhezas. Desde a tenra idade, murmurava ideias que assustavam os padres, encantavam as serviçais e desconcertavam sua mãe. Aos sete, escrevia símbolos estranhos em guardanapos; aos doze, sonhava com mulheres que a perseguiam em bosques florentinos.

"Quando criança, enquanto os outros brincavam de casinha, eu arquitetava futuros paralelos em cadernos escondidos sob o assoalho. Sempre soube que a vida comum não me pertencia."

Páginas 5 a 12 – Rebeldia como Escolha

Letícia registrou, sem temor e com ironia, sua escolha por uma vida fora dos salões respeitáveis da sociedade. A frase que lhe trouxe infâmia ecoa ainda hoje nos corredores da literatura proibida:

"Chamo-me Letícia, mas chamai-me a tal da LL. Abandonei a faculdade sem hesitar, pois meu sonho era escrever histórias e, com isso, escandalizar o mundo."

Mais do que um desejo carnal, sua escrita revela um pacto íntimo com o escândalo e a libertação do corpo como manifesto.

Páginas 15 a 23 – Jogos, Riscos e Delírios

Letícia explorava os limites do viver através de jogos mentais e físicos, cujas regras flertavam com o abismo:

Páginas 29 a 87 – Fontes de Inspiração

Inspirava-se em mulheres que a História tentou apagar: hereges queimadas, amantes proibidas, feiticeiras de aldeias esquecidas. Mulheres que sussurravam verdades por trás de véus rasgados.

Páginas 91 a 132 – Desejo sem Censura

Jamais escondeu sua paixão por outras mulheres. Sua escrita, ousada e sincera, tornou-se prova contra ela em tribunais morais — e inspiração eterna para as que vieram depois.

"Sou mulher que deseja mulheres. E se o inferno me espera, que esteja adornado com o perfume delas."

Letícia tratava o desejo não como pecado, mas como ritual. E ao escrever, encantava. E ao confessar, provocava.

Páginas 138 a 152 – Correspondências com o Invisível

Durante um período de reclusão voluntária, Letícia passou a escrever cartas que jamais foram entregues — destinadas a entidades que apenas ela parecia enxergar. Espíritos, amantes esquecidos de outras eras, ou talvez visões dela mesma em diferentes existências. Suas palavras transbordavam um lirismo doentio e luminoso:

"Escrevo a ti, que me observa através dos espelhos velados. És minha cópia invertida, meu reflexo em febre. Se sou carne, tu és sombra — e juntas formamos o poema que nenhuma alma sã ousaria declamar."

Páginas 154 a 177 – Sobre o Prazer e a Culpa

Num dos trechos mais controversos do manuscrito, Letícia lança mão de uma escrita ousada para abordar o prazer feminino. Critica a moral imposta pelos púlpitos, exalta o toque como rito e compara o orgasmo à iluminação mística:

"Disseram-me que o prazer era pecado. Mas nunca senti tamanha pureza quanto ao tocar-me sob a luz da lua. Se pecado for conhecer o divino por entre os dedos, então quero arder — mas que seja rindo."

Páginas 180 a 207 – Escrita como Maldição

Letícia descreve noites inteiras em que escrevia como possuída, afirmando que as palavras não vinham dela, mas através dela. A caneta molhada em vinho e sangue tornou-se símbolo de sua devoção absoluta à linguagem:

"Escrevi por sete horas seguidas, sem repouso. Minhas mãos doíam, mas as palavras fluíam como se o próprio demônio me soprasse versos. Que força é essa que me usa como pena e me consome a cada linha?"

Julgamentos e Acusações

A fama de Letícia como bruxa não nasceu apenas de seu saber ou de sua rebeldia. Testemunhas afirmavam vê-la à luz de velas, escrevendo com sangue; outras diziam que seus olhos mudavam de cor ao entardecer. O Tribunal Eclesiástico acusou-a de heresia, perversão e bruxaria. Nunca pediu clemência. Suas palavras durante o julgamento tornaram-se lenda:

"Não sou bruxa por conjurar feitiços, mas por ser mulher livre num mundo que detesta mulheres livres. Queimem-me, e ainda assim, minhas palavras arderão com mais força que vossas fogueiras."

Os Últimos Dias de Letícia

Apesar das acusações, Letícia nunca foi uma bruxa. Seus escritos, ousados e poéticos, confrontavam as normas de sua época — e por isso, era temida. Morreu em sua casa, em silêncio, cercada por livros, taças vazias e uma carta inacabada sobre a liberdade. Testemunhas dizem que, pouco antes de seu último suspiro, ela teria sorrido.

"Se fui bruxa, foi por escrever com a alma. Se fui perigosa, foi por pensar. E se parti, é porque até mesmo o corpo cansado deseja repouso sob as folhas secas do outono."

Seu corpo foi enterrado fora dos limites da cidade, num campo silencioso. Hoje, o local é visitado por jovens escritoras, místicas, sonhadoras — e por aquelas que ousam viver como Letícia viveu: intensamente.

Frases Gravadas na História

"Nasci para amar as mulheres — e não me arrependo de um só olhar que lhes lancei."
"Se a morte há de me alcançar, que o faça entre coxas sagradas, sufocando-me no prazer que a Igreja teme nomear."
"Meu peito se inflama não por honra ou glória, mas pelo desejo nu e confesso que nutro pelos seios das mulheres livres."

Estas frases, extraídas de seus diários proibidos, selam o destino de uma mulher que, para muitos, não foi apenas escritora — foi feitiço.